sábado, 6 de junho de 2009

Abílio Diniz A história do Grupo Pão de Açúcar pode ser dividida em duas partes. A primeira remete a 1929, quando Valentim, o patriarca dos Diniz, hoje octogenário, embarcou num navio com o sonho de começar vida nova na América. O imigrante português acabara de cruzar o Atlântico e encantou-se com a beleza de um maciço de pedra no horizonte. "É o Pão de Açúcar", avisou um passageiro. A partir de uma discreta padaria, o jovem lusitano ergueu, em 1948, um estabelecimento que se tornou ponto de encontro das madames paulistanas na época: a doceira Pão de Açúcar. Dez anos depois, foi aberto o primeiro supermercado. Logo seriam dezenas espalhados País afora. A segunda parte da história da empresa tem como marco a recuperação do abismo em que ela se encontrava no final dos anos 80. É aí que entra o ímpeto empresarial de Abílio dos Santos Diniz. Quatrocentas unidades da rede haviam sido fechadas e mais de 30 mil funcionários, demitidos. Parecia não restar alternativa senão esperar o grupo definhar até morrer. Abílio não se conformou. Vendeu imóveis, tomou empréstimos e anunciou a venda dos carros cedidos aos gerentes e diretores. Depois, extinguiu braços do Pão de Açúcar, como os supermercados Jumbo e Minibox, contaminados pela imagem de careiros. A tacada final foi seduzir as donas de casa com promoções irresistíveis. Deu certo. Hoje, o grupo tem 340 lojas e fatura R$ 5,47 bilhões por ano. "Chegamos até aqui com trabalho e humildade, mas agradeço primeiramente a Deus", disse a ISTOÉ este devoto de Santa Rita de Cássia.
Inferno astral Paulistano nascido a 28 de dezembro de 1939, Abílio cresceu entre os fregueses da confeitaria do pai e as barras de ferro da academia onde começou a praticar capoeira e levantamento de peso. Dividindo-se entre o estudo e o esporte, o esbelto rapaz de 1,80 m de altura formou-se aos 20 anos em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Fazia planos de seguir carreira acadêmica - cursou pós-graduação na Michigan State University -, mas a missão de ajudar na direção da empresa falou mais alto. Começou como gerente de vendas, quando o Pão de Açúcar era uma locomotiva que se expandia a todo vapor. Os supermercados ganhavam os clientes dos antigos açougues e mercearias de bairro. Com Abílio à frente do negócio, o grupo tornou-se um dos maiores conglomerados do Brasil e abriu filiais em Portugal.
O inferno astral veio no final dos anos 80. Primogênito de seis herdeiros, Abílio só se tornou sócio majoritário da empresa após uma série de desavenças familiares. O assunto se resolveu com a redistribuição das ações - Abílio ficou com 51%, seu pai com 41% e sua irmã Lucília com 8%. Mas aí vieram os planos econômicos congelando preços que colocaram o Pão de Açúcar à beira da insolvência, sem dinheiro sequer para pagar os fornecedores. Para completar, em dezembro de 1989, Abílio foi sequestrado em São Paulo e libertado depois de 153 horas no cativeiro.
Os tempos de vacas magras fazem parte do passado. Nos últimos anos, o Grupo Pão de Açúcar incorporou alguns de seus principais concorrentes - Paes Mendonça, Extra, Peralta e Barateiro. "Nosso desafio agora é penetrar na periferia com as marcas que adquirimos", anuncia Abílio. A saúde do grupo se estende aos funcionários. Abílio se dá ao luxo de manter uma academia de ginástica para qualquer empregado disposto a malhar. Pelo menos 800 usam e abusam da regalia. "Quem faz esporte aprende a lidar com a competição no trabalho", afirma.
Goleiro Na verdade, ele mesmo irradia bons hábitos. Acorda às cinco horas da manhã para correr dez quilômetros. Evita almoços de negócios, pois reserva o horário para nadar ou fazer musculação. A jornada esportiva é complementada pelo jogo de squash no final da tarde. "Fui goleiro no clube dos advogados de São Paulo e, se quisesse, poderia ter virado profis-sional", jura Abílio. A julgar pela quantidade de troféus e medalhas em sua sala de trabalho (ele já praticou halterofilismo, motonáutica e triatlo, entre outras modalidades) não se trata de nenhum exagero.
Aos 59 anos, está casado pela segunda vez e tem quatro filhos. Os dois mais novos não querem saber de envolvimento nos negócios. Adriana mantém distância da empresa e Pedro Paulo continua ganhando seu espaço nas pistas da Fórmula 1. "Fico nervoso quando acontece algum acidente, mas garanto que nunca vou pedir para ele parar de correr." Já os filhos mais velhos, Ana Maria e João Paulo, contribuíram decisivamente na reconstrução do Grupo Pão Açúcar. Eles costumam participar das tradicionais reuniões que Abílio faz com cerca de 40 diretores todas às segundas-feiras de manhã na sede em São Paulo. Estampada na parede, uma frase do dramaturgo francês Jean Cocteau dá uma pista do espírito empreendedor do patrão: "Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez."
José Ermírio de Moraes O ímpeto guerreiro, que o fez construir um dos maiores impérios industriais do País, associado à fabricação de cimento, alumínio, ferro, aço e zinco, se forjou na vida de provações do menino nascido no solo seco do sertão pernambucano. José Ermírio de Moraes, que desembarcou neste mundo a 21 de janeiro de 1890, pertencia a uma típica família da aristocracia rural do Nordeste. O pai, Ermírio Barroso de Moraes, era um senhor de engenho já decadente ao morrer - o garoto tinha apenas dois anos de idade. A mãe, Francisca Jesuína Pessoa de Albuquerque, ou dona Chiquinha, como todos a chamavam, passou a administrar os negócios familiares na pequena Nazaré da Mata, a 60 quilômetros do Recife. Ladrões de cavalo Além de espantar os cangaceiros que tentavam roubar os cavalos, dona Chiquinha esmerava-se em viabilizar o sonho do falecido esposo, que desejava dotar o único filho homem sobrevivente na família de sólida formação intelectual e técnica. Não queria ver o moço enredado no bacharelismo em voga na época. Aos 16 anos, José Ermírio embarcou para os Estados Unidos para formar-se engenheiro de minas na Colorado School of Mines. "Cresci ouvindo meu pai elogiar a coragem de vovó Chiquinha", disse a ISTOÉ o filho e também empresário, Antonio Ermírio de Moraes.
Alguns meses após a partida, José Ermírio tratou de enviar uma carta para dona Chiquinha. Estava dispensando a mesada porque havia conseguido um trabalho fora do horário das aulas. Lá, pegou no cabo da pá nas minas de chumbo para se sustentar. Quando retornou ao Brasil, em 1921, tornou-se um profissional disputado a peso de ouro e foi contratado pela Secretaria da Agricultura de Minas Geais para percorrer em lombo de mula todo o Estado, com a incumbência de mapear as riquezas minerais da região. Desistiu de ser funcionário público porque ficou sem receber salário - os cofres públicos estavam raspados.
Em 1924, conheceu a paulistana Helena e seu pai, o industrial português Antônio Pereira Ignácio, dono do maior complexo industrial de tecelagem do País na época, em Sorocaba (SP), a Sociedade Anônima Fábrica Votorantim. Quando o portu-guês pôs os olhos naquele rapaz elegante e cheio de boas maneiras, sentiu instatânea afinidade. José Ermírio era o estereótipo do genro e sócio que todo pai procura. O casamento foi celebrado no sofisticado Hotel Esplanada, em São Paulo, em 1925. No mesmo ano, José Ermírio assumia a diretoria dos negócios do sogro e transformou a tecelagem num conglomerado de empresas com tentáculos em vários segmentos de mercado. Em 1933, iniciou sua audaciosa estratégia para expandir os negó-cios da empresa. Abriu uma indústria de cimento, cuja produção inicial foi destinada à construção do Viaduto do Chá, em São Paulo. Em 1935, ele fundou a Companhia Nitroquímica. Mas o grande salto aconteceu em 1938, quando criou a Usina Siderúrgica da Barra Mansa. O industrial pernambucano acreditava, por pura intuição, que o alumínio - até então importado - seria o metal do futuro. No início dos anos 50, abriu a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) para suprir a demanda no mercado brasileiro, com pleno êxito.
Em 1962, José Ermírio decidiu se afastar do comando da Votorantim para concorrer a uma vaga de senador pelo PTB de Pernambuco. Teve a campanha boicotada, mas conseguiu eleger-se. Os tecidos das faixas usadas para sua propaganda eleitoral eram de alta qualidade e, por isso, a população carente passou a roubá-las para a confecção de roupas. Em 1963, foi nomeado ministro da Agricultura do presidente João Goulart, cargo que ocupou durante apenas cinco meses. Veio o golpe militar, em 1964, e o industrial foi atacado por suas posições tidas como excessivamente progressistas, como a defesa da reforma agrária. No término de seu mandato de senador, em 1971, retornou ao comando do grupo Votorantim.
Amador Aguiar O fundador do Bradesco, o maior banco privado da América Latina, com patrimônio líquido de R$ 6 bilhões e 67 mil funcionários, dormiu um dia num banco de praça. Tinha 16 anos e acabara de fugir da fazenda de café onde empunhava a enxada, em Sertãozinho (SP). Quatro anos antes, quando cursava o quarto ano primário, o pai, o lavrador João Antônio Aguiar, que tinha 13 filhos, o tirara da escola para que ele o ajudasse na plantação. Aos 16 anos, ele escapuliu (revoltado com o comportamento do pai, que bebia demais e era tido como mulherengo) e pegou no sono, ao relento, naquele banco de praça em Bebedouro (SP). De madrugada, foi acordado por um mendigo, que lhe pediu um trocado. Aguiar revirou os bolsos e só achou uma moeda. "Então, ele pensou: parece mentira, mas existe gente que tem menos do que eu", contou a ISTOÉ a neta Denise Aguiar.
Nascido a 11 de fevereiro de 1904, em Ribeirão Preto (SP), Amador Aguiar ainda estava sem rumo em Bebedouro quando entrou num restaurante. O dono olhou para o rapazote de mãos calejadas e perguntou se ele queria comer alguma coisa. "Não, primeiro eu quero trabalhar e só depois vou aceitar o prato de comida", disse Aguiar. Não demorou para que ele encontrasse emprego numa tipografia, na qual perdeu o dedo indicador da mão direita numa máquina de impressão.
Em 1926, aos 22 anos, Aguiar era office-boy na filial de Birigui (SP) do Banco Noroeste do Estado de São Paulo. Foi nessa época que começou a acalentar a idéia de subir na vida e, algum dia, tornar-se poderoso. Dois anos depois, numa carreira fulminante, ele já ocupava o cargo de gerente. Mais do que à ambição, ele atribuía o êxito a um detalhe aparentemente secundário. "Todo o meu sucesso profissional eu atribuo à asma. Eu não dormia à noite e, por isso, lia tudo sobre as atividades bancárias. Assim, superei muitos funcionários mais letrados do que eu."
Dez contos Em 1943, o projeto de virar banqueiro começou a se concretizar quando, com amigos, adquiriu a Casa Bancária Almeida, um banco falido de Marília (SP). A instituição ganhou de imediato um novo nome: Banco Brasileiro de Descontos, o Bradesco. No dia da inauguração, a morte repentina do sócio escolhido para dirigir o novo negócio fez de Amador Aguiar o diretor-presidente. Além de plenos poderes, foi agraciado com um terço das ações do banco, que, por sinal, naquele momento, nada valiam. O Bradesco era tão insignificante que o próprio Aguiar fazia piada da sigla da instituição nascente. "Banco Brasileiro dos Dez Contos, se há?", alguém perguntava, e ele respondia às gargalhadas: "Não há!"
Em 1946, ele transferiu a sede do banco de Marília para a rua 15 de Novembro, no centro de São Paulo - sete anos depois, a administração do Bradesco seria instalada em Osasco, na Grande São Paulo, de onde nunca mais saiu. "Foi o pioneiro em separar a administração das agências", disse a ISTOÉ Lázaro Brandão, sucessor de Aguiar e presidente do Bradesco até pouco tempo atrás - atualmente, preside o Conselho de Administração. Segundo Brandão, a idéia de Aguiar era afastar os altos executivos do Bradesco dos problemas corriqueiros das agências. Com isso, sobraria tempo para eles se dedicarem aos grandes negócios. Outra inovação: o Bradesco foi o primeiro banco a aceitar o pagamento das contas de luz. "Com sua visão aguçada, ele fez com que o Bradesco se transformasse, já em 1959, no maior banco privado da América Latina, posição que nunca mais perdeu", disse Brandão. Na fachada do prédio do Bradesco em Osasco ainda hoje se lê a frase que sempre inspirou Aguiar: "Só o trabalho pode produzir riquezas."
Em seu caso, gerou uma fortuna pessoal avaliada em US$ 860 milhões. Mas Aguiar - que teve três filhas e 13 netos - foi um homem de hábitos simples até o fim da vida. Fazia questão de dirigir seu próprio carro, um Fusca. A maior diversão era cortar lenha em uma das fazendas espalhadas pelo País. Gostava de dormir em rede e, curiosamente, nunca usou talão de cheques. Tampouco guardava dinheiro no bolso. Afastou-se da administração do Bradesco, em 1990, e morreu a 24 de janeiro de 1991 de parada cardíaca. Ficou a lenda de uma das mais bem-sucedidas carreiras de self made man do País.
VOCÊ SABIA?Num hotel em Manaus, esqueceram de colocar toalhas no quarto. Não quis incomodar a camareira e se enxugou com a camisa. No restaurante, o garçom não o reconheceu e pediu para ele mudar de mesa. "Ele está só fazendo o seu trabalho", aceitou Aguiar sem reclamar.
ErrataAo ser contratado como diretor-gerente da Casa Bancária Almeida, de Marília, Amador Aguiar recebeu 10% das ações e não um terço delas; na ocasião, a instituição já se chamava Bradesco e não estava falida; em 1951, Aguiar assumiu a superintendência e só se tornou presidente do Bradesco em 1969, em substituição a José da Cunha Jr., genro do fundador do banco, José Galdino de Almeida.

Matarazzo

Francesco Matarazzo Dá para imaginar a cena de uma típica família paulistana da década de 20. Na mesa do café da manhã, a banha enlatada, o açúcar e o presunto cozido servidos pela dona de casa ao marido e à numerosa prole tinham no rótulo um só emblema: "IRFM - Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo." Na prateleira da cozinha, ela guardava amido Brilhante, arroz Iguape, azeite para saladas Sol Levante "o preferido pela sua pureza", lixívia São Jorge "sem rival para limpar cristais e panelas" e Licor Brasil, todos produzidos pelo imigrante italiano Francesco Matarazzo. Na estante do banheiro, um vidro de água de colônia Mimi, o sabonete Rex "que deixa sua pele acetinada" e ainda um frasco de perfume Sedução. OnipresenteEnfeitava a cama do casal a colcha Princeza, que a dona de casa só lavava com sabão de coco "destinado para tecidos finos". A família usava roupas feitas com cortes da tecelagem Mariângela, uma das 365 fábricas que formavam o império das IRFM. À noite, as velas acendidas na casa eram da marca Progresso e o jantar era sucedido de uma dose de conhaque de gengibre Matarazzo. A onipresença da marca do imigrante no dia-a-dia dos brasileiros dá bem a idéia de seu poderio econômico. Nos anos 30, a renda bruta do conglomerado era a quarta maior do Brasil. Faturavam mais que Matarazzo apenas a União Federal, o Departamento Nacional do Café e o Estado de São Paulo.
Se desejássemos dar uma pincelada ainda maior de realidade ao nosso exercício de imaginação, poderíamos situar esta família de consumidores da marca Matarazzo no Brás, bairro paulistano nascido justamente para abrigar os trabalhadores das IRFM. Havia pelo menos sete mil lares que, nos anos 20, dependiam dos salários do industrial. Considerando que cada um de seus empregados tinha mais quatro bocas para sustentar, chegaram a depender de Matarazzo cerca de 35 mil pessoas, nada menos que 6% da população da capital paulista na época.
Com quase 1,90 metro de altura, Francesco Matarazzo era daqueles homens de elegância nata. Ficava bem em qualquer roupa que vestisse, mas durante a vida usou poucas coisas que não fossem ternos impecáveis. A fisionomia era típica dos homens do sul da Itália (nasceu em Castellabate, a 9 de março de 1854) e a calvície e o bigode sempre alinhado eram marcas registradas. Além do porte físico que lhe beneficiava - era difícil não se resignar diante de homem tão altivo -, impunha respeito com pouquíssimas palavras. Ninguém acreditava quando dizia que só concluiu o ensino fundamental. O pai morreu quando ele tinha 18 anos e, sendo o primogênito, abandonou os estudos para sustentar a família. No Brasil, encarnou a figura do "imigrante que deu certo", transformou-se num mito e foi idolatrado pela colônia italiana, à qual defendia com unhas e dentes.
No entanto, ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1881, tinha tudo para se desesperar. A tonelada de banha de porco que trazia da terra natal para comercializar aqui afundou com a embarcação que levava a carga do navio, por puro azar, pouco antes de aportar no Brasil. Sem perspectivas e com pouco dinheiro no bolso, a única esperança de se manter vivo era encontrar um velho amigo e conterrâneo, Fernando Gradino, que vivia em Sorocaba (SP). Meses depois escreveu para a família que deixara na Itália - a mãe Mariângela, a esposa Filomena, oito irmãos e dois filhos: "Abri uma venda em Sorocaba e não procurei, nem jamais procurarei, ter o que se chama de patrão." Empréstimos ajudaram-no a abrir o pequeno empreendimento. Na mercearia, as estantes viviam abarrotadas de produtos de todos os tipos - ele cismava em importar tudo o que aparecesse. Se a clientela pedisse alguma coisa que ele não tinha, tratava de arrumar mais que depressa. Por ironia, o campeão de vendas era a banha de porco importada, o mesmo produto que ele trouxera da Itália e repousava no fundo do mar. Era ingrediente de primeira necessidade para a conserva de alimentos.
"Ele não estava morrendo de fome na Itália. A idéia de tentar a sorte demonstra que tinha um temperamento inquieto e visionário", disse a ISTOÉ Andrea Matarazzo, atual secretário de Comunicação Social da Presidência da República e sobrinho-bisneto do imigrante. "Veio obstinado com a idéia de ganhar dinheiro e estava à frente de seu tempo." Na rabeira do sucesso de vendas da banha em seu armazém, decidiu fabricar o produto, já que porcos não faltavam. O método era simples: bastava um caldeirão no fundo do quintal para derreter a banha. "O segredo está na compra e não na venda", dizia o comerciante aos amigos, com a propriedade de quem sabia negociar no atacado como ninguém. Comprou quase todos os porcos da região e, além de baratear a produção, também revendia o animal. No início, entregava pessoalmente os barris, que eram devolvidos e repostos após a utilização. Mais tarde, veio a grande sacada: enlatar o produto.
Intuição aguçadaO negócio prosperou e, em 1890, suas pretensões já não ca-biam mais em Sorocaba. Quando partiu para a capital paulista, já tinha mandado buscar a esposa, os filhos e três irmãos - Guiseppe, Luigi e Andrea - em Castellabate. A intuição aguçada de bom empreendedor não lhe abandonava nunca. Quando a farinha de trigo faltou no País, Matarazzo não pensou duas vezes. Foi pedir ajuda ao London and Brazilian Bank para construir um moinho, em São Paulo, e seu faturamento cresceu absurdamente. Em 1887, a cifra chegava a 20 contos de réis, e em 1900, possuía 2.020 contos - um crescimento de 9.950% em 13 anos. Em 1920, ergueu o primeiro grande parque industrial do Brasil, na Água Branca, zona oeste de São Paulo. Numa área de 100 mil metros quadrados, reuniu serraria, refinaria, destilaria, frigorífico, fábrica de carroças, de sabões, perfumes, adubos e inseticidas, velas, pregos e outra dezena de indústrias, que funcionavam com a energia de uma usina própria. Nos anos 30, abriu filiais em Ponta Grossa (PR), João Pessoa, Rio de Janeiro, Santos e Curitiba.
Dizendo que o povo de sua terra possuía "inigualáveis força e capacidade de produção", nove entre dez trabalhadores que contratava eram de origem italiana. Ele próprio tratava de provar a tese. Por mais de 30 anos, foi o primeiro a chegar, às sete horas, e o último a sair da fábrica, 14 horas depois. "Era rígido e tinha comportamento exemplar para os funcionários. Considerava-se o operário número um", diz Andrea. Com muito sacrifício, a esposa Filomena conseguia impedi-lo de sair às cinco para pegar no batente, argumentando que nem só de trabalho vive o homem. Reza a lenda que, quase octogenário, numa de suas visitas diárias às indústrias, o velho ouviu de um operário a reclamação de que uma ferramenta qualquer estava inutilizada. Matarazzo resolveu: "Deve haver outra igual a esta, em estado melhor, naquele armário ali." O funcionário, duvidando que o chefe conhecesse tanto assim os milhões de armários de suas fábricas, foi conferir. E encontrou a peça. Matarazzo tinha uma só explicação para a proeza: "Intuição." Quem não sabe o que é dirigir um imenso complexo industrial e milhares de funcionários durante quase três décadas que duvide.
Se como administrador era um exemplo de sociabilidade - perdia tempo proseando com os empregados e tinha sempre uma história para contar nas reuniões de diretoria -, como chefe de família não se pode dizer a mesma coisa. Austero e pouco afável com os 13 filhos, fazia questão de manter a ordem em casa. A educação vinha em primeiro lugar e ai de quem ousasse desobedecer o patriarca.
Mas o carisma não se deixava ofuscar pela eterna braveza. Símbolo da elite industrial paulista, Matarazzo liderou os empresários das primeiras décadas deste século. Em 1928, fundou o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), do qual foi o primeiro presidente. No entanto, nunca concorreu a cargos eletivos - detestava discursar. Nas poucas vezes em que falou em público, o fez em italiano, mesmo porque nunca quis dominar o nosso idioma. A ligação com a Itália era muito maior do que a língua. "Ele teve dois amores na vida: a pátria onde nasceu e as Indústrias Matarazzo", disse a ISTOÉ Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta e autor do livro Matarazzo 100 anos. "Foi por causa da paixão pela Itália que recebeu o título de Conde." Durante a Primeira Guerra Mundial, o industrial mudou-se para o país de origem, onde foi ajudar no abastecimento das cidades mais atingidas. Pelos serviços prestados à nação, recebeu o título, embora a família, cuja tradição remonta ao século XII, carregue a nobreza no sangue.
Acertando os ponteiros Se o sangue azul não o fazia sentir-se orgulhoso, também não o incomodava. Homem de poucas ostentações, sua única veleidade era a paixão por carros. Há quem jure que o primeiro Ford a circular na capital paulista foi o dele, que parava multidões quando circulava. Mas não surpreendia ninguém, porque o rigor dos horários do Conde fazia com que os populares soubessem exatamente quando e onde ele iria passar. A rotina era tão metódica que alfaiates, barbeiros, sapateiros e comerciantes em geral acertavam os ponteiros de seus relógios de acordo com as passagens do velho. Figura folclórica na cidade, foi personagem da célebre frase "Pensa que eu sou o Matarazzo?", resposta comum que os chefes de família davam às esposas quando os gastos passavam dos limites. Pudera, a mansão na Avenida Paulista estava lá, imponente, numa área de 12 mil metros quadrados, para quem quisesse ver. No portão principal, o brasão da família intimidava qualquer um que passasse em frente. A casa foi demolida nos anos 80 e parte do terreno hoje abriga um estacionamento.
Ruína Antes dela ruíra a maioria das indústrias do patriarca. Os sucessores do Conde, o filho Francisco Júnior e a neta Maria Pia, não suportaram a concorrência que chegou com os anos 50. "A falha foi não ter percebido a mudança no cenário industrial. Era preciso se especializar. De que adiantava fabricar uma imensa variedade de produtos sem liderar as vendas de nenhum?", analisa Cunha Lima. Menos mal que o Conde não viveu para assistir à bancarrota. Morreu a 10 de dezembro de 1937, aos 83 anos, de uma crise de uremia (bloqueio repentino da circulação do sangue). Tinha o hábito de visitar diariamente pelo menos uma empresa de seu império. E só não conversava com todos os funcionários porque era tarefa impossível - o exército de trabalhadores era formado por 15 mil homens, em 365 fábricas, uma para cada dia do ano. Os operários, numa homenagem ao chefe, acompanharam o cortejo com uma faixa na lapela onde se lia: "Vida eterna ao Conde."

quarta-feira, 3 de junho de 2009

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